Na semana de Corpus Christi, que celebramos o mistério da Eucaristia, do Sacramento do corpo e do sangue de Jesus Cristo, festa que surgiu no séc. XIII, na diocese de Liège (Bélgica), por iniciativa da freira Juliana de Mont Cornillon (†1258), na qual os fiéis agradecem e louvam a Deus pela presença do senhor como alimento e remédio da alma, também comemoramos a inspiração do Santo Padre Francisco, que escreveu, em 24 de maio de 2015 (publicada em 18/06/15), a mais bela das encíclicas “Laudato Si” Louvado Seja, que tem como temática central a Ecologia.
Imagem: Papa Francisco
Um texto dividido em seis capítulos, no qual o Papa Francisco faz um convite à sociedade, um chamado aos homens e mulheres para refletirem sobre os cuidados com o meio ambiente e a preservarem a nossa casa comum”, o planeta Terra, em virtude das ações descontroladas, na busca pelo poder e progresso econômico.
Um apelo de Francisco à família, para que busquemos um novo estilo de vida, mais sustentável e integral. É hora de estabelecer debates mais sinceros e coerentes, alertou o sumo Pontífice ao criticar o abuso e o uso irresponsável dos bens que Deus colocou à disposição dos homens, em referência ao solo, a água, o ar e os seres vivos, que parecem doentes, disse o Papa.
Francisco propõe mudanças imediatas e logo no primeiro capítulo, denominado “O que está acontecendo à nossa casa” traz reflexões teológicas profundas, quanto ao mundo que fazemos parte, onde descreve poluição pela cultura do descarte e as mudanças climáticas como problemas que desafiam a humanidade.
Diz uma passagem da encíclica “A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater o aquecimento global ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam. É verdade que há outros fatores, mas numerosos estudos científicos indicam que a maior parte do aquecimento das últimas décadas é devido à alta concentração de gases de efeito estufa, emitidos pela atividade humana”. E inclui, “Isto é particularmente agravado pelo modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis, que está no centro do sistema energético mundial. Também, a prática crescente de mudar a utilização do solo, principalmente o desmatamento com finalidade agrícola” (La Santa Sede-Encicliche-24/05/15-editora do Vaticano).
Sobre a água pesam reflexões sobre a qualidade disponível para os pobres e doenças que ceifam vidas, diariamente. “Enquanto a qualidade da água disponível piora constantemente, em alguns lugares cresce a tendência para se privatizar este recurso escasso, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado”. Alguma semelhança, nesta outra passagem, com a realidade que se vive em Pelotas? Por aqui a valorização da água é precária, pois não prestamos o devido controle aos mananciais; mantemos valetas a céu aberto, sobretudo onde concentra a pobreza; emissários de efluente rasgam a cidade, oferecendo perigo; não temos uma rede coletora completa; o tratamento do esgoto opera com problemas; o banho na praia ficou inviável e estamos discutindo a possibilidade de uma parceria público-privada, que pode caminhar para privatização do sistema.
E quanto a perda de biodiversidade a encíclica alerta que o cuidado com os ecossistemas requer uma perspectiva que se estenda para além do imediato, pois a lógica do ganho econômico rápido e fácil impede a preservação. E quase sempre o custo do dano provocado pela negligência egoísta é muitíssimo maior do que o benefício que se possa obter. O que me faz pensar no nosso arroio Pelotas.
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Publicação original
Diário Popular 24/06/2017